domingo, 4 de março de 2012

Isabel

Isabel 
Você minha fada
Dormindo nua
Doce mel melaço 
Eu quero seu abraço
Olhos verdes colírios
Leva-Me as delírios
Entrou na minha vida
Feita personagem de ficção
Logo se colocou em ação
Nos labirintos do meu coração
Menina andaluz 
Perdida na cidade luz
Inicio do nosso trilhar
Neste caleidoscópio do amor
Que vira revira corpos, séculos mentes almas...
Num caminho que não teve fim nem começo
Cheio de tropeços
Me pegou no labirinto das trevas
Me levando a esta paz matinal
Hoje flutuo no topo da vida
Abraçado a voce e ao nosso Victor
Contemplamos o mar abaixo no penhasco
Que de tão azul nos faz perder o medo
Vamos pular na certeza de viver
A grandeza das nossas almas

Vicente Beserra

02/09/10

terça-feira, 20 de dezembro de 2011


Hoje levamos nosso Victor na sua primeira vez nesta vida para ver o mar, ao colocar os pés na água nos primeiros instantes ficou um tanto arredio,como ficamos com tudo que é novo, mas logo sorriu a valer com a imensidão verde, nosso filho conversava com o oceano, como um ente, respondia ao afago e o som das ondas, as vezes ria outras chorava dos segredos ali revelados a sua alma, na salinidade que a tudo purifica e vivifica, ai consegui entender a partícula e o cosmos, ele brincava com Deus.

Vicente Beserra

Nós


No dia que te encontrei
Sabia que te conhecia
Que você  me pertencia,
De onde? Quando? Ou porque?
Não sei
Apenas sentia
Mas  quando nossos olhares se cruzaram
Corações dispararam
Naquele segundo o mundo parou de girar
E tudo voltou ao seu lugar!

Bell 20/12/2011

terça-feira, 6 de maio de 2008

vida ou as vezes

ÀS VEZES
As vezes quando algum pássaro chama ou entre os ramos
algum vento sopraou nalgum pátio longe ladra um cão,
Por longo tempo eu escuto e me calo,
Minha alma voa para o passado,para onde,
há mil esquecidos anos,
o pássaro e o vento que soprava mais pareciam meus irmãos e eu.
Minha alma faz-se uma árvore, um animal, um tecido de nuvens...
Transfigurada e estranha ,
volta a mim e me interroga.
Que resposta lhe darei?
Hermann Hesse_ ANDARES (Antologia Poética)

sábado, 3 de maio de 2008

Rilke escreveu pra si mesmo e para toda humanidade

CARTAS A UM JOVEM POETA
"PRIMEIRA CARTA"

" Paris, 17 de Fevereiro de 1903
Prezadíssimo Senhor,
Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, - seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com maior clareza no último poema, "Minha Alma". Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema "A Leopardi" talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos, sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas desse longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, - o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta.
(Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.
Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.
Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Hoaracek; guardo por esse amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
Rainer Maria Rilke"

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Véspera

A véspera

A véspera mais excitante que existe.
Uma comemoração antecipada.
E uma divida sendo quitada.
Tudo se repete a grama, o pôr-do-sol, e a carne.
Mas a expectativa sempre aumenta, como se cada
Segundo fosse diferente.
O sol invade a alma trazendo luz.
A musica que ilustra nossa historia.
A cada segundo coisas novas surgem.
Surgem como se fossem já fossem velhas.
A união do novo e do velho.
Um grande mistério.
Um enigma a ser decifrado.
As pessoas já não estranham os
Corpos que nunca se estranharam.
Que mesmo sem saber, já se conhecem
A muito tempo, talvez de outras vidas.
E agora voltam a se cruzar.

Homenagem a Drummond e a Francisca Julia

A onde será que eles irão nos levar?

Tudo começou há dez anos atrás,
Essa história que o presente traz.
Essas energias sem nexo,
Que se transformaram em sexo.
O que será?
Aonde eles irão nos levar?
A poesia que o poeta escreveu,
E a poetiza viveu.
Será que fomos nós
Nos corpos deles?
Ou eles usando nossos corpos?
Matar-me-ei por você?
Seremos nós suas encarnações?
A onde eles nos levarão?
Dúvidas, curiosidades e mistério,
Ao mesmo tempo em que perturbam, nos alegram.
Qual será o sentido da vida?
Que verdade vivemos?
Perguntas que nunca calarão.
Aonde será que eles nos levarão?
Mas não vamos ouvir a razão,
Apenas obedeceremos ao coração.